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6 de maio de 2008

“A notícia como forma de conhecimento”


A frase acima é discutida ainda nos dias de hoje, pois através da notícia e, indispensavelmente, do jornalismo – como forma de contar, narrar e conhecer os fatos – o indivíduo se situa no mundo.
Desde 1940 o assunto tem sido estudado – principalmente pelo jornalista e sociólogo Robert Ezra Park. Antes de chegar ao conceito notícia como forma de conhecimento, Park atuou como jornalista, durante onze anos, em bairros pobres da periferia. Especializou-se em casos da vida real como a marginalidade, imigração, perda dos elementos culturais (aculturação), delinqüência e corrupção.
No ano de 1898 ele abandonou os métodos jornalísticos e ingressa em Harvard para “compreender a natureza e a função de um tipo de conhecimento que chamamos notícia” (Park, 1950).
Park completa seus estudos na Alemanha, dando início a sua formação em Sociologia na Universidade de Heilderberg, em Berlim, e segue os ensinamentos de Georg Simmel, que questiona o “estado de espírito” da cidade, além de observar o psicológico da personalidade urbana, intensificação do estímulo nervoso, mobilidade e locomoção (Simmel, 1903).
A realidade, para Park, é vista como um processo construtivo que dá mobilidade e movimento a esse terreno chamado de “laboratório social”. Segundo ele, esse laboratório seria a cidade com seus signos de desorganização e de marginalidade – características principais estudadas pela Escola de Chicago. (Mattelart, 1999)
Entre 1915 e 1935, Park se pergunta sobre a relação entre os jornais e a integração dos imigrantes na sociedade americana. Ou seja, a partir dessas comunidades étnicas é que Park vê a função dos jornais e, principalmente, das diversas publicações em línguas estrangeiras. A ética do jornalismo e a diferença entre a notícia e a propaganda social (Park, 1922).
Em 1921, Park e o pesquisador E. W. Burgers dão nome a essa problemática como “a ecologia humana”, ou seja, a relação do homem com sua casa – teoria inventada, em 1859, pelo biólogo alemão Ernest Haeckel.
Então, os pesquisadores Park e Burges buscam relacionar e compreender as inúmeras contribuições ecológica vegetal e animal como o estudo das comunidades humanas.
Aos 39 anos, Park defendeu sua tese de doutorado na Alemanha. "A massa e o público" foi o tema do seu estudo. O pesquisador era a figura que mais se destacava na Escola de Chicago, sendo considerado um dos pioneiros dos estudos da comunicação em massa. Neste mesmo ano, ele voltou aos Estados Unidos e trabalhou como assistente do psicólogo William James. Aproveitando a oportunidade, ele toma emprestado dois pensamentos essenciais que podem ser aplicados nos estudos das notícias. Neste contexto existem duas formas de conhecimento: o "conhecimento de" e o "conhecimento acerca de".
O "conhecimento de" seria o que entendemos por senso comum. Ou seja, é a primeira compreensão do mundo resultante de uma herança deixada por um grupo. Essa compreensão pode ser resumida nos hábitos, costumes, tradições e culturas da humanidade. Para Park, o "conhecimento de" é uma espécie de conhecimento intuitivo "que inevitavelmente adquirimos no curso de nossos encontros pessoais e de primeira mão com o mundo que nos rodeia" (PARK, p.169, 1979). E ele continua afirmando:

"Tal conhecimento, com efeito, pode ser concebido como forma de ajustamento orgânico ou adaptação, que representa a acumulação e, por assim dizer, a fusão de uma longa série de experiências. É essa espécie de conhecimento pessoal e individual que faz cada um de nós sentir-se à vontade no mundo que escolheu viver (...) Um conhecimento que se incorpora no hábito, no costume e, por fim, por algum processo de seleção natural, que não compreendemos plenamente no instinto; uma espécie de memória ou hábito social" (PARK, p.169, 1979).

Já o "conhecimento acerca de" é o conhecimento racional, em que existe um esforço de separar o sujeito do objeto. Pode ser considerado também como um saber científico, onde o conhecimento baseia-se na observação e no fato, sendo ele verificado, rotulado, sistematizado e, finalmente, ordenado nesta ou naquela perspectiva, segundo o propósito do pesquisador (PARK, p.171, 1979). Ou, por assim dizer, seria também a construção da notícia. A partir desta análise, o autor situa a notícia e a define pelo interesse público, diferente das formas de comunicações indutivas ou persuasivas, que são semelhantes às formas intuitivas. Isto é, para ele, a partir da notícia que surge a opinião pública.


"A primeira reação típica do indivíduo a uma notícia será, provavelmente, o desejo de repeti-la a alguém. Isso gera a conversação, desperta novos comentários e talvez uma discussão. Mas o que há nesse fato de singular é que, iniciada a discussão, o acontecimento discutido deixa de ser notícia e, sendo diferentes as interpretações de um acontecimento, as discussões se transferem do plano da notícia para o dos problemas que ela suscita. O choque de opiniões e pareceres, que a discussão invariavelmente evoca, termina, via de regra, numa espécie qualquer de consenso ou opinião coletiva - que nós denominamos opinião pública. É na interpretação dos acontecimentos presentes, ou seja, da notícia, que se funda a opinião pública".(STEINBERG, p.176, 1966).

Em 1905, Park participa do projeto Tuskegeem, em Washington. Esse projeto tinha objetivos de fortalecer as comunidades negras do Alabama. O pesquisador além de ser repórter de grandes investigações jornalísticas, ainda tinha energia para lutar pela causa negra e se contrapor a exploração das tropas belgas de Leopoldo II.
Somente com 49 anos, em 1912, Park ingressa na Escola de Chicago. Se torna coordenador do curso de doutorado do departamento de Sociologia da escola e assume a presidência da Sociedade Americana de Sociologia.
Já aposentado, Park sai da Escola de Chicago e, no final de sua carreira, ingressa na Universidade Fisk, em Nashiville, onde publica vários artigos sobre a questão dos negros que conquistaram a liberdade após a escravidão. O pesquisador morre em 7 de fevereiro de 1944.


Larissa Araújo.®


Blibliografia

PARK, Robert. "A notícia como forma de conhecimento". In: Steinberg - Meios de comunicação de massa. São Paulo, Cultix, 1976.
STEINBERG, Charles S. (Org.). Meios de Comunicação de Massa. São Paulo: Cultrix, 1966.
MATTELART, Armand e Michèle. História das teorias da comunicação. São Paulo, 1999.

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